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Foi realizada uma atividade com as turmas do 2º ano de Informática, nos turnos da manhã e da tarde. Como resultado, dois artigos dos segundos anos foram selecionadas de cada turno.
Agora, fiquem com as escolhidas e apreciem a leitura!
ESCOLA NÃO É FÁBRICA: CADA UM TEM SUA CULTURA —
Por: Ana Clara dos Reis e Isabela Cabral, Segundo Ano de Informática (Tarde)
No âmbito escolar, é comum encontrar estudantes com gostos culturais variados: alguns utilizam gírias regionais, outros gostam e têm preferência de ouvir funk, rock ou outro gênero musical, e tudo isso reflete na formação da nossa sociedade. Essa pluralidade, longe de ser um problema, nos mostra a riqueza e beleza cultural da nação. No entanto, apenas alguns estilos são valorizados e tomados como padrão entre os demais. Diante disso, a escola deve ser uma instituição acolhedora, que valoriza as diferenças e não toma como fundamento apenas um olhar sobre o outro.
Em “O perigo de uma história única”, Chimamanda Ngozi Adichie nos mostra os riscos de enxergar as pessoas apenas por um aspecto limitado de suas identidades. Esse olhar estereotipado, comum até mesmo no Instituto Federal, acaba por rotular alunos com base no gosto musical, nas roupas e no modo de falar e se expressar. Assim, o/a estudante é questionado/a sobre sua própria cultura, por se comparar aos padrões estabelecidos. Por isso, Chimamanda defende que ninguém pode ser julgado por um traço, ou até mesmo excluído pela sociedade por expressar seus valores e crenças.
Ademais, a mesma autora ressalta a importância de ouvir múltiplas vozes e histórias. Quando a escola prioriza um padrão cultural, acaba por desestimular estudantes que, por diversas vezes, são considerados fora do padrão de “bom aluno”, reduzindo a participação deles, por não se sentirem representados. Será que não estamos muito próximos dessas histórias únicas citadas por Chimamanda? Sabemos que o Instituto é uma parte fundamental da formação de cada um de nós, então, não seria obrigação o ambiente ser acolhedor à diversidade e aberto à cultura de cada indivíduo?
Partindo desse pressuposto, devemos tomar atitudes de inclusão e respeito junto aos alunos e docentes, com palestras que podem ser ministradas pela Cnapne e pela Sepae, reforçando que, sem essas diferenças culturais, é impossível formar uma instituição ampla e diversa, onde deve prevalecer o respeito, para serem formados cidadãos mais conscientes e empáticos. Assim, fortalecemos as relações dentro do ambiente escolar, valorizando sua pluralidade, bem como criando um ambiente acolhedor e agradável.
REESCREVENDO HISTÓRIAS: UM OLHAR SOBRE PENSAMENTOS ESTREITOS —
Por: Luana Floriano, Malu de Oliveira e Yasmin Olenik, Segundo Ano de Informática (Manhã)
Uma das principais características do Instituto Federal do Paraná – campus Irati é a sua diversidade. A grande liberdade que nós, estudantes, temos aqui nos permite viver com autenticidade. Mas o que seria desse ambiente sem a autonomia para sermos quem somos? Ao ensinar que “a única sexualidade certa é a heterossexual”, por exemplo, um pai pode induzir o filho a discriminar colegas na escola, reproduzindo preconceitos e gerando exclusão. Sendo o pensamento transmitido por esse pai um estereótipo sobre um determinado grupo, existe uma relação direta entre esse tipo de ideologia e a frase da escritora nigeriana Chimamanda N. Adichie: “uma história única cria estereótipos”. Assim, tratar diferenças como anormalidades prejudica o respeito à diversidade tanto no IF quanto na sociedade, da qual a instituição faz parte.
A ideia de “história única”, conforme apresentada por Chimamanda, refere-se à prática de reduzir pessoas ou grupos a uma única narrativa, geralmente baseada em esteriótipo ou preconceito (de fato, um alimenta o outro). Quando apenas uma versão da realidade é contada, todas as outras perspectivas são invisibilizadas ou consideradas erradas e inaceitáveis. Isso ocorre, por exemplo, quando alguém supõe que uma aluna é rebelde ou irresponsável somente por sua aparência. No Instituto Federal já presenciamos situações em que colegas LGBTs foram alvos de piadas ou exclusão devido a preconceitos baseados em ideias pré-concebidas. Essas histórias únicas não apenas limitam o convívio social saudável e respeitoso nas escolas, mas também desumanizam os indivíduos.
Nesse sentido, as histórias únicas não se limitam a espalhar esteriótipos, elas também apagam a existência de grupos inteiros. Quando apenas um modo de viver é valorizado, outras formas de expressão e cultura são ignoradas ou vistas como moralmente reprováveis, levando, inclusive, a ataques covardes. Um exemplo claro disso é o desrespeito às religiões que não seguem o padrão da maioria, como as de matriz africana, frequentemente alvos de discriminação. De acordo com um relatório do Ministério dos Direitos Humanos, cerca de 35% dos casos de intolerância religiosa registrados em 2022 ocorreram em ambiente escolar, demonstrando como essa violência também se espalha nas instituições de ensino.
Desse modo, é notório que a permanência desses valores homogêneos e restritivos chamados “histórias únicas”, os quais são definidos e defendidos pelo grupo dominante, têm um impacto negativo na convivência em instituições de ensino como o IF, visto que eles tiram a dignidade e até mesmo a liberdade individual das pessoas. Com o fito de “apagar as linhas” dessa história e reescrevê-la, precisamos trazer mais visibilidade e consciência acerca desse tema por meio da realização de companhas inclusivas e palestras que evidenciam a nossa real sociedade, que é plural, e motivem a defesa da identidade, sem estigmas e preconceitos contra os grupos sociais que frequentemente são vítimas de pensamentos arcaicos e práticas violentas.