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Foi realizada uma atividade com as turmas do 1º e 2º ano de Informática, nos turnos da manhã e da tarde. Como resultado, duas crônicas dos primeiros anos foram selecionadas do turno da manhã. Agora, fiquem com as escolhidas e apreciem a leitura!
Obs.: os artigos de opinião das turmas do 2º ano estão na Carta Aberta.
O querido Instituto Federal do Paraná — por Gabriel Sheliga
Em 2024, sonhar era um ato de coragem para mim. E o meu sonho, ao mesmo tempo modesto e gigante, era encontrar uma instituição de ensino que me fizesse sentido. Foi assim que descobri o Instituto Federal do Paraná, pela tela do computador, numa manhã qualquer, como quem encontra um amor por acaso.
Tinha vários bons amigos na minha antiga escola, daqueles que carregamos no peito, mas o sonho gritava mais alto. Finalmente chegou o dia de ver o tão esperado resultado, mãos suadas, coração batendo a mil... e lá estava meu nome. Naquele instante, aprendi que sonhos não são impossíveis, esperam o tempo certo de serem realizados!
O primeiro dia letivo finalmente chegou. A ansiedade caminhava comigo, falando alto dentro da minha cabeça: "E as matérias novas? E os professores? E os colegas de classe?". Cada pensamento era uma pergunta sem resposta, uma conversa comigo mesmo, que parecia mais barulhenta do que o despertador naquela manhã.
Na minha rotina, tudo mudou: os horários, os compromissos, o tempo de descanso e até o jeito de ver a diversão. Cada detalhe parecia reprogramado para uma nova vida. Mas havia algo maior por trás de tudo isso, o meu sonho estava se realizando.
Os dias foram passando, e cada um trazia uma sensação única, uma mistura de alegria, risadas e descobertas, como se tudo isso se combinasse naturalmente. Vieram as provas, os trabalhos, os desafios, mas junto com eles, crescia também a vontade de aprender. Era como se o conhecimento deixasse de ser obrigação e virasse desejo. Eu queria entender tudo, e quanto mais eu estudava, mais curioso eu ficava.
Hoje, entendo que aquele simples clique no campo de resultados foi muito mais do que um passo: foi o início de uma transformação profunda, intelectual, emocional e até pessoal. O Instituto Federal do Paraná não é apenas uma escola. É um lar de descobertas, onde posso crescer, ser quem eu sou e fazer o que mais amo: estudar e aprender com sentido.
Anéis de Saturno — por Maria Fernanda Waszak
A música, as vozes, resmungos e estalos guiavam aquela noite morna, num abraço salgado que se espalhava quadra a dentro. A noite mais esperada, agora realizada à minha frente em tons de rubro, verde e amarelo. A fuga da rotina tão aguardada, despertando na ponta da língua um gosto juvenil: era dia de Festa Julina no IF.
Sentada sob a barraca, escondida da multidão, com o par de sapatilhas posto ao lado, olhava para minhas próprias pernas, contando os furos da meia-calça e as listras da coxa. Garrafinha de água na mão, tirando um tempo da confusão que se erguia dentro da quadra para zelar por outra coisa: e mesma.
Com a cabeça tombada e a atenção fixa no chão, meus olhos se ergueram involuntariamente ao sentir a presença de mais alguém. Subi a silhueta: era um rapaz, adolescente, camisa branca e uma saia de tule infantil, com uma tiara de corações na cabeça. Não disse nada, apenas uma troca desconfortável de olhares que ecoou por poucos instantes. Puxou um cartãozinho vermelho e me entregou. Assim que peguei, ele desapareceu no meio da festa.
Era um cartão vermelho, em formato de coração. Feito a mão, bem decorado. Uma figurinha no canto, de um gato ‒ como se zelasse a frase escrita ao centro, rabiscada em cursivo, “por você vou roubar os anéis de Saturno”, um verso inesperado da canção de Rita Lee.
Observei o correio elegante por um tempo, meio desacreditada no que acabara de ler. O toque liso do papel cartão me despertou um arrepio. Virei o bilhete: no verso, o meu nome. Levantei, pés fixos ao chão e possibilidades voando ao meu redor. A curiosidade não só falava mais alto, gritava aos meus ouvidos como se fosse minha obrigação descobrir quem e por quê.
Ainda descalça, cruzei a quadra, cada passo mais lento que o último. O vento frio atravessou o portão e bagunçou mais uma vez os cabelos, mas eu sequer percebi. Eu estava em Saturno, caçando a lua certa entre os milhares de satélites entre os anéis. Aquela sensação me atordoava, subia pela garganta, fazia um nó. Sentimentos em queda livre quando olhei para frente e vi a barraca do correio elegante. Bastava me aproximar, perguntar e, então, descobrir o remetente.
Cerrei meus lábios, direcionando olhar para o cartão novamente. Meus dedos passeavam pela ponta que estava descolada, repetidamente. Inconscientemente, dei um sorriso. Engoli a seco um par de sensações, erguendo a cabeça e guardando o presente estelar no bolso. O zumbido nos ouvidos virou um sentimento ardente, calado. No uníssono em que entraram as batidas do meu coração, eu dei meia-volta, e saí.